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Preparado para o reaquecimento?

A quantidade de empresas que não alcançaram resultados é relevante

Este ano está se mostrando bem mais desafiador do que inicialmente se havia sido considerado. A afirmação já deixou de ser novidade há algum tempo, sendo mencionada em uma grande diversidade de contextos. A recente deterioração da competitividade do mercado brasileiro, motivada por inúmeras incertezas como a alta do dólar e inflação, os escândalos de corrupção e as indefinições no cenário político, está fazendo com que essa frase seja usada bem mais do que gostaríamos, mas qual é a real dimensão dos desafios que estamos vivendo atualmente em relação a anos anteriores?

Considerando os últimos anos de bom desempenho da economia brasileira, não ficou tão claro para as empresas que o cenário em 2015 poderia ser mais complicado que o ano anterior. Os resultados da pesquisa “Tendências e Práticas de Recursos Humanos” realizada pelo Hay Group em outubro passado, logo após o segundo turno das eleições, apontavam para um grau de otimismo com relação a 2015 relativamente alto, e rapidamente se provou o contrário.

Uma nova atualização do estudo, realizada no final de junho, nos deu algumas evidências concretas de quão complicado 2015 está em reação aos anos anteriores: para quase 60% das empresas, os resultados financeiros orçados para a primeira metade do ano ficaram abaixo do esperado. Para muitas delas, esse fraco desempenho está diretamente relacionado ao timing entre a aprovação dos planos de negócios para 2015 e a divulgação de pacotes de medidas econômicas do governo, relatada por muitas empresas como um dos principais obstáculos ao atingimento das metas.

Ainda que a quantidade de empresas que não alcançaram resultados até o momento seja alta e preocupante, há uma aposta para a recuperação desse espaço perdido agora no segundo semestre. A pesquisa revelou que 73% dos participantes esperam um cenário desafiador, porém favorável, para os próximos meses. Mas, por mais que tenhamos muitos dias pela frente, virar esse jogo pode representar um grande desafio para muitas empresas, já que a perspectiva vislumbrada para 2016 em muitos setores é de manutenção ou piora do cenário vivido até agora.

Os setores da economia não estão sendo afetados igualmente, alguns têm horizontes mais favoráveis e outros, mais desafiadores, como bens de consumo, varejo, montadoras, químico e petroquímico. Diante da manutenção do grau de investimento do Brasil e os patamares cambiais atuais, é natural que o interesse de conglomerados multinacionais pela aquisição de empresas brasileiras possa aumentar ao longo dos próximos meses. Ainda que seja relativamente cedo para considerarmos esta opção como algo concreto, caso as empresas continuem não conseguindo desempenhar – como vimos em quase 60% dos casos nesse primeiro semestre – tais fusões e aquisições poderiam começar a tomar formas um pouco mais concretas.

Infelizmente não existe uma receita simples para se contornar uma crise, por isso é necessário ficar atento a algumas questões mais críticas para garantir que o plano de negócios da sua empresa seja, na medida do possível, cumprido em 2015 e o próximo ano comece sem sufoco. O foco principal é analisar de maneira realista o que ainda dá para ser alcançado, garantir que a empresa esteja bem financeiramente e tenha condições de passar por esse momento. Controlar ao máximo os gastos, renegociar dívidas em dólar, maximizar receitas e fazer uma boa reserva de caixa sem duvida ajudará a maioria das empresas a se preparar para enfrentar os desafios tanto do restante de 2015 como o de pelo menos da primeira metade de 2016, ainda que isso não seja tudo.

Garantir a austeridade significa também encarar com cuidado a gestão de talentos. As empresas acabam indo para uma linha onde pessoas são vistas como custos, quando, na verdade, são elas que vão impulsionar o negócio, especialmente num cenário de retomada da atividade econômica. Nesse contexto, as contratações programadas para este ano foram canceladas ou suspensas em 53% dos casos e a gestão de talentos se manteve como um ponto crítico.

Com menos vagas disponíveis no mercado e mais empresas enxugando seus quadros de funcionários, é preciso garantir que a estrutura da empresa seja a mais efetiva possível, com custo e dimensionamento adequados. A experiência nos ensina que em um cenário de dificuldade, as empresas que tem capacidade de reação mais rápida do que as outras são aquelas que mais se beneficiam das oportunidades num mercado restrito. Adequar os requerimentos de pessoas da sua empresa a esse contexto, somado as demais ações de austeridade mencionadas acima, certamente ajudarão a atravessar esse período de incertezas sob menos pressão que as empresas que ignorarem essa questão.

Gustavo Tavares é Diretor do Hay Group.