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Resolução para 2016: sobrevivência

Com perspectivas pouco claras para o próximo ano, mas com a certeza de que o pior ainda não passou, empresários devem se preparar e restaurar a esperança para sair da crise

Diante dos rumos da economia, que a cada mês apresenta indicadores negativos de produção, emprego e faturamento em quase todos os ramos de atividade, o início de 2016 deve ser ainda pior. A sensação é que não se atingiu -ainda- o fundo do poço.

O fim do ano é o momento de preparar o caixa e a estrutura do negócio para atravessar o primeiro trimestre do ano - que é de férias escolares e geralmente de vendas fracas - tendo em vista a sobrevivência.

Isso será um desafio, já que a reação tanto de empresários quanto de consumidores depende da perspectiva sobre o futuro. O Índice Nacional de Confiança da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e Ipsos atingiu 74 pontos em outubro, a menor pontuação desde que a pesquisa começou a ser elaborada, em abril de 2005.

O índice mostra que todas as classes sociais estão mais pessimistas e, nesse cenário, a esperança de um futuro melhor pode fazer a diferença na hora de encontrar soluções para sair da crise -mesmo que isso seja difícil com as tensões políticas que jogam uma névoa nas projeções econômicas para o próximo ano.

Segundo representantes de entidades e empresas de diferentes ramos de atividade reunidos na ACSP, a falta de esperança é uma característica que diferencia a recessão atual de outras vividas pelo brasileiro nos últimos 50 anos. Se no Brasil não há sinais de mudança, eles veem com bons olhos a mudança de rota na política na Argentina.

Para o Brasil, as projeções não são animadoras. Uma estimativa de um banco, apresentada no encontro, mostra que a recessão - ou a queda do PIB - deve se estender até 2017.

A inflação encerraria este ano em 10,50% e 8,5% em 2016, acima de 6,5% em 2017. Só convergiria para o centro da meta de 4,5% ao ano em 2017 caso a taxa de juros fosse elevada a 18% por um período de um ano.

A possibilidade de isso se concretizar era nula até a última reuniãodo Comitê de Política Monetária (Copom) - quando dois dos membros votaram pelo aumento da taxa Selic em 0,50 ponto percentual, mas foram votos vencidos.

Dependendo de qual for a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) sobre a elevação dos juros nos Estados Unidos, em dezembro, a tese de aumento da Selic pode ganhar mais ou menos força na primeira reunião de 2016, em janeiro.

A queda da inflação, nesse contexto, é uma perspectiva positiva, mas o aumento na taxa de juros brasileira enfraqueceria ainda mais a atividade econômica.

Com exceção do varejo farmacêutico, que ainda cresceu em termos nominais 9,4% em outubro na comparação com igual mês do ano passado, os demais setores estão no campo negativo.

NÚMEROS NEGATIVOS ACOMPANHAM O PIB

A queda no varejo já alcança dois dígitos: em média 15,15% na primeira quinzena de novembro em comparação a igual mês de 2014, segundo Balanço de Vendas da ACSP.

A crise já provocou o fechamento de 900 concessionárias de veículos, de um total de 4 mil, segundo representante do setor.

Nos shoppings, não é diferente: há lojistas devolvendo espaços antes mesmo do Natal e a perspectiva para janeiro é de saída de uma média de 10 inquilinos por empreendimento aberto. "Não há investidor e nem disposição", disse um empresário do setor.

A indústria, por sua vez, caiu 7,4% até setembro e deve encerrar o ano com baixa de 8%. Uma fonte do setor atacadista disse no encontro que os pedidos realizados estão sendo entregues rapidamente, o que mostra que a indústria está estocada e correndo contra o relógio.

Em comum, os empresários disseram que a crise chegou à contratação de temporários de fim de ano e, quem ainda não enxugou o quadro de funcionários, pode estar com problemas para pagar o 13º salário.

No setor têxtil, por exemplo, houve fechamento de mais de 54 mil vagas de janeiro a outubro. "Há trabalhadores pedindo para não ter aumento desde que não sejam demitidos", disse outro empresário.

O setor teve queda de 13,83% nas importações e de 8,33% nas exportações. A produção também desabou 22,5% em setembro deste ano perante igual mês do ano passado.

O dólar valorizado ainda não ajudou este setor. A estimativa é que um efeito positivo sobre as exportações demore pelo menos dois anos.

Segundo um consultor, a alta da moeda norte-americana tem estimulado a produção no Brasil de itens que antes eram importados. É o caso de lâmpadas de LED e de partes de embalagem de alimentos, bebidas e de até de higiene.

Ainda assim, o setor de embalagem de higiene e alimentação ainda registra uma queda em produção de cerca de 4,5%.

"Só não foi pior para o faturamento porque repassamos a alta de custos", disse. Ainda na indústria de embalagem, um representante do setor disse que crescem as vendas de resina plástica, o material usado em galões que armazenam água, por causa da crise hídrica em São Paulo e da tragédia ambiental ocorrida em Mariana (MG).